sábado, 23 de janeiro de 2010

Veó

Corto meu cabelo todo final de semana, na sexta-feira ou no sábado é certo eu estar lá sentado na cadeira de barbeiro do meu amigo Sandro, que já me atende a mais 15 anos ininterruptos! A minha turma fica me sacaneando dizendo que não tem o que cortar, mas não tem o que cortar justamente porque eu não deixo meu cabelo crescer, ora!

Antes de Sandro, a única pessoa a mexer em minhas “madeixas” foi o Sr. Domingos Dias, o Seu Boró, meu pai… Hoje em dia os moleques chegam nas barbearias e salões cheios de pose e pedem o corte “moicano”, “topete”, “social”, “lage”, ou simplesmente deixam o cabelo crescer e entopem de cremes, gel, escova e até chapinha… Se quando eu era garoto sonhasse em deixar o cabelo crescer, primeiro que ficaria medonho, segundo que era capaz de mu pai arrancar minha ourelha fora e mandar eu tomar vergonha!

Na minha época, o que tinha de mais “moderno” em corte de cabelo era “VO” (lê-se ‘VEÓ’) com o “pé do cabelo” em formato de "triângulo invertido”, que por sinal eu ODIAVA, mas era bem melhor do que o corte “PIMPÃO” que o pai dos meus vizinhos fazia neles visto que o famigerado “PIMPÃO” era uma espécie de cópia piorada do cabelo do “CASCÃO” da “Turma da Mônica”… Como eu só tinha duas opções, ou “VO” ou “PIMPÃO” eu ainda preferia o “VO”!

Quando meu cabelo já estava um “tufo” (estilo black power) meu pai pegava o “tamborete” (banco de madeira), colocava sob a sombra da mangueira e gritava “áááááááááaáááááá ôôôôôôôôôôôôôôôô, cortar o cabelo!” (que significava, “Danival, cortar o cabelo!") e eu tinha que parar o que estivesse fazendo, senão…

O “borrifador de água” era um vaso de margarina e a lâmina era improvisada num galho de goiabeira com “gillete” amarrada por linha de costura! Como eu não tinha direito a olhar no espelho até o final do corte, combinava com minha irmã para que ela ficasse rondando o tamborete durante o corte, para se certificar de que meu pai não estava jogando o “PIMPÃO” na minha cabeça. Ficava feliz quando a resposta era “não”, mas também ficava puto, porque junto com o “VO” vinha o tal pé do cabelo feito em formato de “triângulo invertido” que eu não sei de onde ele inventou!!!

Costumo dizer que meu corte hoje é “PAN”, não sei o que significa, mas é o que me vem a cabeça quando olho o espelho após o trabalho das tesouras e da máquina do meu amigo Sandro, que sucedeu tão bem meu herói na árdua tarefa de aparar o meu cabelo “pixain”! Agora só precisa eu dizer “o de sempre” ou então “apara” e depois de meia hora no máximo o cabelo fica “PAN” eu eu saio mais bonito da barbearia; sabe como é, tenho uma “fama de gatinho” a zelar!!!

Danival Dias
danival.dias@gmail.com [mail]
danivaldias@hotmail.com [msn]
www.twitter.com/danivaldias
Texto publicado originalmente em dezembro de 2006

Um comentário:

Anônimo disse...

Uso o veó até hoje! Mas chamo de veol, que é a junção das sílabas iniciais de "verde-oliva", uma referência à origem militar do corte. Curti muito seu texto: fluido, esperto, leve, engraçado e com boa cadência. Você vai longe, Danival! Um caloroso abraço! Fábio