terça-feira, 28 de junho de 2022

 Pré-visualização da imagem

Ingressar na universidade para cursar uma faculdade, não era algo incentivado na escola pública, para jovens de origem humilde da minha geração. Em minha cidade, Camaçari (BA), eu e outros meninos e meninas, ouriundos da periferia, sonhávamos com “uma boa vaga no Polo Petroquímico”, sonho esse, nem sempre possível, pois, desde aquela época, as tais “boas vagas no polo”, sobretudo para o camaçariense, já eram bem diminutas ou mesmo inacessíveis.

A universidade era “um lugar distante” para nós, porém, incentivado por minha saudosa mãe, Dona Nicinha, que era professora, decidimos “subverter a ordem” e arriscar. Tentei entrar na UFBA e na UNEB, mas, os cursos eram predominantemente diurnos e eu precisava trabalhar. Acabei sendo aprovado no vestibular de uma renomada instituição particular, entretanto, as mensalidades eram caríssimas e completamente incompatíveis com a minha renda à época, de modo que “a conta não fechava”.

Eu pagava a matrícula e na renovação para o semestre seguinte, nos cruéis e desumanos escritórios se cobrança, eu negociava o restante da dívida em mais parcelas. FIES, créditos educativos, bolsas, existiam, porém, também eram “artigos de luxo”, apenas para poucos. Vivíamos um grande paradoxo: Universidades particulares e caras, cheias de alunos pobres, egressos da escola pública, e que precisavam estudar à noite por causa do trabalho e, por sua vez, universidades públicas, com seus cursos, salvo raras exceções, diurnos, repletos de estudantes das classes média-alta e alta.

Eis que anos depois, mesmo já formado, a expansão e a interiorização da rede pública superior de ensino, me proporcionaram a realização de um sonho de garoto: O de ser diplomado, graduado e pós-graduado por grandes instituições Federais!
E foi assim que cursei Graduação em Administração Pública, Especialização em Gestão Pública Municipal, Especialização em Gestão do SUS e por ultimo, Especialização em Gênero, Diversidade e Direitos Humanos, todos pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira - UNILAB, além da Graduação em Letras, pela Universidade Federal da Paraíba. Em andamento, pelo IFRO Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia, uma pós-graduação em em Educação de Jovens e Adultos e um MBA em Gestão das Instituições Públicas.

Hoje, apesar dos ataques lamentavelmente institucionais dos são contrários à presença d filho do trabalhador pobre na academia e da visível tentativa de destruição e enfraquecimento do poder de ação da rede pública superior, ainda temos esses oásis de oportunidades, democratizando o acesso à formação gratuita, com cursos noturnos ou na modalidade EAD, quase inexistentes até bem pouco tempo. Viva à universidade pública, gratuita e de qualidade. Esse post é para exaltar políticas públicas de acesso à educação superior. A educação transforma e impulsiona vidas. Comigo foi assim. Muito obrigado UFPB, IFRO e UNILAB! ✊🏾

terça-feira, 14 de junho de 2022

Camaçari e os seus 42 km de praia. Para quem?


 O camaçariense sempre se orgulha em dizer que a cidade possui “42 km de belas praias”, mas, será mesmo? Destes 42 km, Busca-vida, há muitos anos não nos pertence. A Lei 7.661/88, que instituiu o “Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC”, em seu artigo 10, é claro ao dizer que:

“Art. 10 – As praias são bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidos por legislação específica.
§1º-Não será permitida a urbanização ou qualquer forma de utilização do solo na zona costeira que impeça ou dificulte o acesso assegurado no caput deste artigo” (grifo nosso)


Mas a realidade é absolutamente outra. Quem consegue entrar facilmente em Busca Vida? Quantos camaçarienses conhecem Busca Vida? Para piorar a situação, esse fenômeno de “privatização” dos acessos às nossas praias vem sem expandindo. Já há trechos de praia inacessíveis em Guarajuba, Itacimirim, Barra do Jacuipe…

Camaçari, diferentemente da maioria das demais cidades costeiras Brasil afora, não se desenvolveu à beira-mar. A instalação do Polo Petroquímico, acentuou o crescimento da zona urbana onde convencionamos chamar de “sede”, deixando o litoral literalmente abandonado. Do ponto de vista governamental, nunca houve um ordenamento a contento daquela região e de uns anos para cá, a coisa tem piorado: Especulação imobiliária, invasões, violência, destruição ambiental…

Há lugares do litoral camaçariense que são verdadeiros “condados”, espécies de “territórios autônomos”, onde um “dono” é quem dá o comando, a despeito do poder público e da sociedade. Em Guarajuba, por exemplo, ônibus e vans do transporte público não entram, pasmem, por determinação judicial. Quem não tiver seu próprio meio de condução, tem que ir a pé e mesmo para quem vai de carro, estacas foram fincadas ao longo do asfalto e impedem o estacionamento de quem não tem o privilégio de ter uma casa por lá, fora os logradouros públicos, que são fechados com portarias e segurança armada, sendo transformados em "condomínios", sem regulamentação, impedindo a circulação das pessoas.

Já as praias ainda acessíveis ao povo, sobretudo, as mais frequentadas, tais como Jauá e Arembepe, lindíssimas por natureza, carecem visivelmente de cuidados e sofrem com a violência, sujeira, trânsito desenfreado, perturbação da ordem, invasões e o total abandono por parte do poder público. Resumo da ópera: Em Camaçari, há praias que são “privadas”, onde o morador nativo não é bem-vindo e as que são “abertas ao povo”, estão completamente abandonadas.

Nesse contexto absurdo e triste, os 42 km de praias são mesmo todos nossos? É óbvio que não e a tendência é piorar, basta ver quantidade de “condomínios” e ocupações irregulares que brotam no litoral camaçariense a cada dia!